sábado, 30 de março de 2013

Educação Brasileira é Vítima de Agressões


O caso de agressão ocorrido na Escola Municipal João Kopke, em Piedade, na cidade do Rio de Janeiro, tomou conta do país. Um aluno de 15 anos foi repreendido pela diretora por uma brincadeira onde dava uma gravata (golpe sufocante aplicado com o braço em volta do pescoço da vítima) em um colega de classe. Depois de xingá-la e tomar ciência de que seu responsável seria chamado à escola, o adolescente imobilizou a diretora, dando-lhe socos que causaram sangramento no nariz.

Mais tarde, numa rede social, a dirigente desabafa sobre o ataque sofrido: "O agressor sai de cabeça erguida, olhando para trás e rindo. Não só do agredido, mas de cada um de nós [...]". Muitos pensamentos egoístas não entenderam essa declaração. Mas, ela viria a se confirmar logo depois.

Alguns alunos fizeram uma manifestação na entrada da escola, a favor da diretora. Logo, ela foi encerrada. Amigos do agressor chegaram ao local, rasgando os cartazes e causando confusão. Neste ambiente selvagem, um deficiente físico levou dois socos no rosto.

Educadores como Leonardo Vieira de Castro, da UNIRIO, disseram que o ato ocorrido com a diretora foi uma agressão a toda instituição. Mas, precisamos ir além: o ataque foi a todo sistema educacional brasileiro, à toda sociedade. O agressor, naquele breve instante, representou todo o descaso com a educação que ocorre nesse país. E na diretora, personificou-se um povo sofrido, batalhador, que acredita num futuro digno e segue defendendo os seus ideais.

Casos como o do Rio de Janeiro têm acontecido por toda a nação. E uma das grandes culpadas é o que podemos chamar de "camisa de força dos educadores". É o argumento legal que está na ponta da língua de diversos alunos: "Você não pode nem me tocar, porque tem uma lei que diz isso! Eu posso chamar a Polícia, o Conselho Tutelar!". Assim, embasados legalmente, alimentam a falta de respeito e limites. E, em casos mais graves, ameaçam, como também ocorreu na Escola Municipal João Kopke: o agressor prenunciou um ataque ao estabelecimento com seus amigos (segundo alunos, traficantes de drogas de uma comunidade próxima) para matar todos.

As crianças e adolescentes são e devem continuar sendo sujeitos de direitos. É uma conquista maravilhosa, dentro do pensamento democrático que rege a nossa nação. Mas, os frutos dessa vitória não podem ser uma prisão de professores e educadores em geral. A lei não pode incentivar a quebra de limites por parte dos discentes. Afinal, educação lida com a convivência, entendimento e construção de limites ao longo do tempo.

A escola é um reflexo da sociedade. Se a violência na sociedade segue aumentando, isto também ocorre dentro do estabelecimento de ensino. Toda injustiça social e despejada dentro da escola, apimentando as tensões. E, por diversas vezes, a bomba explode, ganhando notoriedade nacional.

A educação precisa ser repensada. E dignidade é um valor que precisa nortear esse caminho. O docente não tem estrutura emocional para lidar com determinados conflitos porque está cansado e precisa se desdobrar entre várias escolas. É necessário dar dignidade ao professor, condições de trabalho, aumentar o seu salário, retirar a sobrecarga de suas costas.

O nosso sistema de ensino ainda é muito conservador e necessita de mudanças. Os alunos ainda participam bem pouco da construção do conhecimento e dos procedimentos de decisão na escola. É fundamental debater ideias e construir limites, que não sejam opressores, tanto para alunos, como para educadores.

(João Paulo Moço)